domingo, 29 de maio de 2011

O Cometa (Conto Poético Psicológico - Continuação)




Se os corpos celestes não se movimentassem muito no céu, ou apenas alguns viajassem, talvez a história fosse outra.
Mas as luas giram ao redor dos planetas; e os planetas giram ao redor das estrelas; e as estrelas também se movem nas galáxias; as galáxias, constelações, nebulosas, também dançam no colosso magnífico do Universo Sideral. Todo astro, pequeno ou gigante, se move. E toda essa movimentação é harmoniosa e esplêndida que não há como não se ouvir uma maravilhosa sinfonia conduzindo os contra-passos desse balé perfeito. (Apenas os meteoros fogem dessa harmonia perfeita.)

Fosco fez outras amizades e encontrou alguns que ele achou que não valia a pena ter como amigos. E houve outros que ele achava que deveria fugir deles. Mas sobre isso até que agora ele ia indo bem.
Porém, ele andou ouvindo, atento nas conversas, mas sem fazer muitas perguntas, algo que o aterrorizava. E toda vez que isso acontecia Fosco seguia adiante sentindo como nunca o quanto um cometa anda só em seu percurso. Às vezes, isso acontecia quando ele estava numa volta em seu pepino oposta, muito, muito distante de sua Luz.
- Ora, sou ágil. Não sou alvo fácil. Posso queimar, posso fugir.
E, pensando estas coisas, seguia imaginando-se em mil situações, em combates, e - veja - se saindo herói.
Mas ele bem sabia, tinha ouvido muitas vezes (não dava pra fazer de conta que seria fácil) que grandes estrelas - estrelas !!! - haviam sido sugadas como pó estelar naquele obscuro, sinistro, absolutamente desconhecido, grande bueiro.

"Nada escapa" - era o que todos afirmavam.
"Ninguém consegue fugir!"
"Ninguém consegue sair!"
"Tudo some e nada volta ..."

Na sua jornada, ele passou muitas vezes pelo Astro. E sempre que o via ficava extasiado, pois se aproximava mais. Houve uma vez em que se aproximou tanto que esteve certo que ia mergulhar e nadar docemente naquela chama, naquela energia à qual ele mesmo pertencia e da qual havia sido feito.
Mas, quando parecia que isso ia acontecer, não aconteceu e lhe pareceu que precisava dar mais uma volta no pepino.
"Desta vez acho que será a última."
"Talvez eu volte a encontrar alguns amigos, quem sabe, o planeta azul!?" - e seguiu pensando em coisas boas que aconteceriam logo à frente, coisas que o animassem.
"Tudo afinal depende do balé do Universo."
E seguiu veloz, veloz o quanto pode um cometa meio distraído, mas que tem um alvo.

Encontrou, sim, velhos amigos. Conheceu novos. Viu coisas belas. Enfrentou pequenos perigos e, satisfeito - orgulhoso mesmo, por que não? - saiu-se muito bem.
Ria, muitas vezes, pois há muita coisa engraçada no céu: constelações, por exemplo. Também levava sustos uma vez ou outra, mas isso acontecia principalmente porque se desorientava fácil. Mas, enfim, já havia aprendido que era preciso ter senso de humor.
Muito vagarosamente, porém, ele começou a perceber que havia algo errado, como uma má notícia que as pessoas não ousam ou não querem contar.
E isso ele começou a perceber sem entender. Ele notava pelas expressões daqueles a quem encontrava na sua rota.

Aos poucos, conforme seguia em frente, essas expressões se tornaram mais freqüentes e houve mesmo quem baixasse os olhos ao vê-lo.
Logo ele passou a ouvir um rumor que entendeu que tinha a ver com ele em algum sentido.
Mas Fosco tinha uma trajetória e seguiu bem reto em seu rumo. Firmou seus olhos adiante e foi quando ele viu, ainda muito longe, mas - não havia nenhuma chance de ser diferente - bem na direção de seu percurso, estava aquilo que aterrorizava não somente a ele, mas a todos - gigantes ou insignificantes corpos do Universo: o sinistro e em seu interior absolutamente desconhecido Buraco Negro.

A luta de Fosco começou desde o momento em que viu o Buraco Negro. Se formos honestos, devemos dizer que sua luta já havia começado muito antes, quando ouviu as primeiras notícias de sua existência e poder e precisava ser sereno e não ceder ao medo.
Mas, agora que o via à sua frente e lhe era inevitável, sabia que estava a um passo do desespero. Então se concentrou em não se desesperar e - pequeno como era - lutou como um gigante tentando fugir do poder que o sugava para o desconhecido, o formidável despenhadeiro.
O Buraco Negro, porém, não faz distinção de tamanho, força ou cor. Ele pode e, se quiser, suga qualquer um; e ninguém pode negar isso ...

Fosco aos poucos foi sumindo.


(Continua no próximo post)




Conto da escritora amazônida Alaíde Xingu

Um comentário:

A Professora Tia Lilian disse...

Oi Alá, gostei de teres continuado o conto.outra hora passo com mais vagar e leio, tá?bj.